Luciano Borges dos Anjos

domingo, 24 de abril de 2011

Policiais baianos criticam

Policiais baianos criticam UPP de Jaques Wagner


Policiais do Batalhão de Choque, que trabalham em regime de 12 horas no local, dizem que recebem comida estragada, dormem no chão e que o governo busca omitir confrontos que ainda ocorrem com traficantes na favela.

“É certeza: o tráfico continua acontecendo e ficamos engessados, porque é uma operação totalmente política. Não querem que a gente vá atrás desses casos, porque estão se vangloriando que a ocupação ocorreu sem um tiro”, afirmou nesta segunda-feira (18) ao iG um policial que pediu para não ser identificado.

A base comunitária de segurança, a chamada UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) baiana, é a principal aposta da gestão Jaques Wagner (PT) para reverter o aumento da violência em Salvador e na Bahia. Diante do desgaste político causado pela criminalidade, o governo baiano trocou a cúpula da segurança pública em 2011 e reforçou a divulgação de ações no setor.

Nesta segunda (18), um policial que trabalha no Calabar disse que a qualidade da alimentação fornecida aos PMs melhorou desde a semana passada, após a divulgação das denúncias pela Aspra. Disse, contudo, que as condições de descanso continuam ruins e que a aproximação com a comunidade ainda é difícil.

“A população de lá é muito ligada ao tráfico. Olham para a gente com cara feia, porque eles tinham apoio dos traficantes, que estão manipulando as pessoas contra a gente”, afirmou.

Segundo o policial, as “poucas pessoas” que chegam para falar com os PMs relatam que o tráfico de drogas continua ativo no local, embora não como antes. “Ficamos fixos em três pontos e a droga sai por outros becos. Não temos como abordar todos que entram e saem”, disse.

O policial relatou ainda um caso de tiroteio na última sexta-feira (15) com um homem que fugiu após reagir à chegada de uma guarnição da PM. “O comandante ligou para saber se o bandido estava baleado, não perguntou se tinha policial ferido. A primeira preocupação deles é que venha à tona que o local não está pacificado. Não está pacificado, está ocupado”, afirmou.

Outro lado

O secretário de Comunicação da Bahia, Robinson Almeida, afirmou que as críticas dos policiais têm como alvo “algo que não existe”, pois a base de segurança só será instalada por volta do final de abril. Sobre as queixas em relação à alimentação fornecida no local, afirmou que “não há nenhum registro de problema”.

O diretor-adjunto de Comunicação Social da PM baiana, tenente-coronel Sérgio Baqueiro, afirmou que a tropa que ocupa o Calabar trabalha em escala de serviço de 12 horas, que não prevê folga para dormir. “A finalidade não é dormir, é policiar. Quem falou isso [reclamação sobre alojamentos para descanso] desconhece o processo. Policiais que têm alojamento para dormir são aqueles que trabalham em regime de 24 horas.


(Thiago Guimarães, iG Bahia)